Um bate-papo com a artesã Tarciane Cavalcante
Por: Larissa Monteiro/Amazonas Cultura
“Gostaria que o artesanato fosse valorizado de forma que a gente pudesse ter oportunidade de expor o ano inteiro as nossas peças”.
O artesanato é o trabalho criativo dos artesãos que fazem, manualmente, objetos ornamentais e de utilidade, por meio dos recursos naturais do lugar onde habitam. Assim como outros lugares do mundo que reproduzem as suas culturas nas artes, em Parintins são exaltados os saberes indígenas nas belas criações.
A artesã Tarciane Cavalcante, 28, estudante do curso Técnico de Meio Ambiente, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam/Parintins), está no ramo de confecção de brincos e adereços folclóricos a mais de 15 anos. Busca conhecimento na área do artesanato para trabalhar de forma inovadora e sustentável, em toda oportunidade possível.
No ano de 2022, participou do Curso Pra Frente, da Associação, Cidadania Social e Sustentabilidade (Acssus) em parceria com o Projeto Gerando Falcões. Teve projeto contemplado pela Acssus em segundo lugar, com investimento de quatro mil reais em seu ateliê, 300 mulheres de Parintins e região, concorreram às duas vagas.
Mesmo com a importância do artesanato, pela representatividade cultural e por somar na renda dos artistas, ainda não há uma valorização apropriada à categoria. A jovem Tarciane, mãe da Jacyane, 5, e do João Otávio, 3, fala nessa entrevista do amor ao que faz e explica as dificuldades na profissão.
Foto: Larissa Monteiro
Foto: Larissa Monteiro
Como o artesanato começou a fazer parte da sua vida?
O artesanato começou a fazer parte da minha vida aos 14 anos, quando eu tive o primeiro contato com algumas peças artesanais, que me chamaram atenção e a curiosidade de aprender fazer. Com o tempo a vontade de que aquilo fizesse parte da minha vida, foi aumentando, fui me dedicando e hoje eu sou considerada uma artesã. Trago o artesanato não só como um ganho, uma renda extra. É um trabalho que eu gosto de fazer, tenho um carinho em fazer, que me faz bem.
Por que decidiu ser artesã?
Somente aos 16 anos comecei a me dedicar ao artesanato e decidi ser artesã, pois eu acabei descobrindo que era isso que eu queria pra mim, era o que eu queria fazer, e que eu queria que fizesse parte da minha vida. E por eu ter acesso à natureza, sempre gostei de dar vida, dar continuidade à uma semente, à um pedaço de madeira, que não poderiam mais ser utilizados. Fui enxergando ali uma alternativa pra aquilo ganhar uma nova forma de vida, pra ser valorizado.
O que o artesanato significa pra você?
Hoje o artesanato na minha vida significa muito, pois eu descobri a liberdade de poder trabalhar com o que gosto. O tempo que preciso fazer, eu mesmo faço acontecer, contribuo pra isso. Então eu dedico a minha vida na maioria do tempo ao artesanato, lógico aos meus filhos. Mas hoje trabalho em casa, tenho a minha renda.
Qual é a importância do artesanato pra você?
A importância do artesanato pra mim, eu penso de forma ecológica. Criar uma arte com algo que seria descartado, me motiva a dar uma importância muito grande pro artesanato, a valorizar essa arte.
Você consegue viver, financeiramente, da sua arte?
Hoje sim, consigo ter um questão financeira mais organizada, tenho um lucro dentro do meu trabalho, posso dizer que contribui bastante pra casa. A minha questão financeira com o artesanato é gratificante, hoje pra mim, é uma renda maravilhosa, além de ser meu trabalho preferido.
Quais as dificuldades enfrentadas enquanto artesã?
As dificuldades que eu tive que enfrentar como artesã é de não termos um olhar de apoio na nossa cidade. A categoria sofre com isso. Hoje vem aumentando aos poucos a atenção pros artesãos, mas a gente já sofreu muitas dificuldades pelo fato de não ter um lugar próprio pra expor, pra vender. É muito complicado porque todos os artesãos passam por isso, a gente vê maior oportunidade no festival, por ter ali um acesso melhor pra ganhar uma renda extra, é muito mais do que a gente ganha diariamente. Então essas questões que os artesãos enfrentam é basicamente colocado nisso, a categoria não tem um apoio financeiro, um local apropriado.
O artesanato é valorizado em Parintins?
Não. O artesanato em Parintins não é tão valorizado como deveria ser. Nós vivemos na cidade de artistas, de artesãos, e infelizmente não tem esse valor devido, tanto que só podemos ter um pouco de reconhecimento quando chega o período da festa dos bumbás. Então somente nesse período a classe é valorizada, mas ou menos, porque há algumas dificuldades que a gente enfrenta.
Como você gostaria que o seu trabalho fosse valorizado?
Gostaria que o artesanato fosse valorizado de forma que a gente pudesse ter oportunidade de expor o ano inteiro as nossas peças, as nossas obras, as nossas artes, e infelizmente isso não acontece como deveria ser. Deveríamos ter um lugar apropriado, uma sede pra gente ter um lucro maior. Hoje eu tenho meu ateliê em casa, mas pelo fato de não ser no cento da cidade, sinto dificuldade muito grande em relação a isso. Deveria ser implantado um local no centro da cidade, onde todos os artesãos pudessem expor e vender suas peças durante o ano inteiro.
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